segunda-feira, 11 de maio de 2009

A Importância de Yad Vashem

O museu e memorial do Holocausto em Jerusalém, Yad Vashem, é ponto de passagem obrigatória para qualquer alta figura que visite Israel.

Aqui são recordados os milhões de judeus que morreram durante a perseguição Nazi, a que costumamos chamar Holocausto, mas que os judeus preferem chamar Shoah, que significa "calamidade".




A visita que Bento XVI protagoniza a este memorial hoje reveste-se da maior importância pelas mais diversas razões:

Caso Williamson: Ainda está fresco na memória dos judeus este caso que despoletou em Janeiro. O Papa decidiu levantar a excomunhão a quatro bispos seguidores de Marcel Lefebvre, um arcebispo cismático e ultra-tradicionalista que foi excomungado em 1988 precisamente por ter ordenado sem autorização papal estes quatro senhores.
Entre eles conta-se Richard Williamson, um inglês excêntrico que já negou publicamente a existência de câmaras de gás, e afirma duvidar que tenham morrido mais do que 200 ou 300 mil judeus às mãos dos nazis.
Numa catastrófica falha de comunicação e de investigação, admitida publicamente pelo Papa, o levantamento da excomunhão avançou sem que, pelo menos, os parceiros no diálogo inter-religioso fossem preparados.



Entre os efeitos mais graves do caso está a ideia, ainda hoje presente, de que Williamson terá sido "readmitido" à Igreja, como ainda hoje noticiaram alguns órgãos de informação internacionais. Nada mais falso. Williamson continua a ser cismático, a sua ordenação permanece ilícita e o seu ministério não é reconhecido pelo Vaticano. O próprio já deu tantos sinais de inflexibilidade nas suas posições que dificilmente se imagina que algum dia será readmitido à comunhão da Igreja.

Caso Pio XII: Este é um ponto de discussão mais antigo entre a Igreja e algumas figuras judaicas. A acusação destas é de que o homem que foi Papa durante a II Guerra Mundial não terá feito o suficiente para ajudar os judeus.
A Igreja não concorda, afirmando que Pio XII fez o que podia, mas discretamente, ordenando aos mosteiros de Roma, por exemplo, que acolhessem tantos judeus quanto possível.
A questão nunca ficou resolvida, embora esteja a ser investigada, mas piorou quando se falou na hipótese de avançar com a causa da sua beatificação.
Dentro do museu Yad Vashem encontra-se uma fotografia do Papa com um letreiro que alude ao facto de não ter ajudado suficientemente os judeus. A Igreja já manifestou, noutras ocasiões, a sua discordância com essa interpretação. Diplomaticamente, conseguiu-se que a visita do Papa não passasss por essa sala.



Caso da Oração de Sexta-feira Santa: Este caso passará despercebido à maioria dos fiéis de ambas as religiões, mas teologicamente é o mais importante. Ao liberalizar o uso do rito tridentino, através do Motu Próprio "Summorum Pontificum", o Papa colocou novamente a discussão sobre a salvação dos judeus. É que as cerimónias de Sexta-feira Santa contêm uma oração pela conversão dos judeus, utilizando termos que o Segundo Concílio Vaticano compreendeu serem duros e ofensivos, apelidando-os de "descrentes" e comparando a sua recusa de Cristo a uma cegueira.
O Papa reescreveu a oração pessoalmente, mas manteve o pedido que Deus "ilumine os seus corações [dos Judeus], para que reconheçam que Jesus Cristo é o salvador de todos os homens".



Mas esta alteração também não satisfez alguns judeus que continuam a rejeitar qualquer oração que dê a entender que um Judeu se deva converter para poder ser salvo. Eles argumentam que vivem numa Aliança salvífica com Deus, instituída por Ele com os seus antepassados e que Deus nunca quebra as suas alianças.
A questão continua a manter ocupados teólogos e comissões de diálogo entre católicos e judeus, um pouco por toda a parte.


Caso da Juventude Hitleriana: Finalmente, e como afirmou o próprio embaixador de Israel em Portugal, Ehud Gol, a nacionalidade deste Papa não pode ser ignorada. É público que Bento XVI pertenceu à Juventude Hitleriana, mas é igualmente sabido que vivendo na Alemanha naquele tempo, não poderia ter escapado a tal sorte. Sabe-se igualmente que o seu pai, que era polícia, sempre foi opositor do regime Nazi e que na família dos Ratzinger não havia grande admiração por Hitler. Contudo, o simples facto de ser Alemão dá uma carga simbólica a esta visita a que ninguém está indiferente, muito menos o Papa.

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